O esporte da vela na raia do desenvolvimento sustentável

Quando decidimos neutralizar as emissões de carbono do Campeonato Brasileiro
da Classe 420 de vela, realizado no final de julho de 2021 na represa de
Guarapiranga, não fazíamos a menor ideia de como essa história terminaria.

Isso porque não encontramos nenhuma experiência anterior para nos inspirar, o que
nos leva a crer que, em certa medida, o Yacht Club Santo Amaro (YCSA) foi
pioneiro na iniciativa de realizar um campeonato de vela neutro de carbono. Para
começar, procuramos quem entende do assunto.

Sensível às características da vela – esporte praticado na condição de total sintonia
com a água e o vento -, o Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN) nos
ajudou a fazer as escolhas para encontrarmos a pegada de carbono do
campeonato.

Compilamos os dados da geração de resíduos e dos consumos de energia, água e
combustível fóssil durante o período de regatas, de 25 a 31 de julho.

Quanto aos resíduos, como houve coleta seletiva de 55 quilos de recicláveis em
parceria com a Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro, o impacto nas
emissões foi minimizado. Contabilizamos apenas os rejeitos encaminhados para
aterro.

Em relação ao consumo de combustível fóssil, o cálculo foi feito sobre a gasolina
utilizada nos botes e lanchas que serviram técnicos e comissão de regata. Os
consumos de água e energia foram levantados a partir da média da medição diária.

Poderíamos ter feito um inventário mais abrangente das emissões, calculando, por
exemplo, os deslocamentos das flotilhas até o nosso clube – tivemos 6 estados
participando das regatas, ou seja, um deslocamento importante de pessoas e
barcos.

Mas, para uma primeira iniciativa, consideramos mais relevante conhecer o impacto
das emissões das atividades locais de realização de um campeonato de vela. Esse
cálculo nos ajuda a aprofundar a nossa compreensão sobre a relação entre a vela e
a sustentabilidade.

Com 91 anos de tradição na vela, recentemente o YCSA se juntou à Rede Brasil do
Pacto Global da ONU e adotou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS). O clube está construindo uma agenda de práticas ambientais, sociais e de
governança orientada pelos ODS e reduzir o impacto ambiental das nossas
atividades é parte desse compromisso.

Resultados – A operação local do Campeonato Brasileiro da Classe 420, realizado
na represa de Guarapiranga, em São Paulo, com sede no YCSA, emitiu 8,571tCO2
(toneladas de carbono equivalente).


Serão plantadas e cuidadas por dois anos 54 árvores nativas da Mata Atlântica em
áreas de restauro florestal do Parque Ecológico do Tietê para compensar as
emissões, o que confere ao campeonato o selo de Evento Neutro de Carbono do
Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza.


A iniciativa foi patrocinada pela SABESP – Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo, Neopeças e Plátano Comunicação Social e possibilitou uma
contribuição efetiva do YCSA para o ODS 13 – Ação contra a Mudança do Clima.
Para além da neutralização das emissões, colocamos o tema em discussão durante
o Campeonato.


Os 68 velejadores e velejadoras que disputaram as regatas desta classe
pré-olímpica estão na faixa etária dos 15 aos 23 anos. Possivelmente, um destes
atletas poderá representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris 2024, que têm como
promessa reduzir pela metade as emissões de carbono ligadas à organização dos
jogos e compensar mais do que emitir.


Fazer essa conexão é fundamental para que a vela praticada no Brasil, que orgulha
o país com seu desempenho, também possa servir de exemplo e inspiração para a
busca do desenvolvimento sustentável.


Peter Pondorf é Comodoro do Yacht Club Santo Amaro
Sandra Di Croce Patricio é Diretora de Sustentabilidade do Yacht Club Santo Amaro
e da Confederação Brasileira de Vela – CBVela